A recém-anunciada consola Nintendo Switch 2 traz inegáveis melhorias quando comparada à sua versão inicial, incluindo ecrã maior, acabamento premium e melhor processamento gráfico. No entanto, essas mudanças vêm atreladas a uma maior mudança: a de estratégia comercial.
Preços e posicionamento
Enquanto a estratégia anterior da marca focava em vender a consola a um preço relativamente acessível (abaixo dos 300€), manter seus jogos principais com preços fixos, na faixa dos 60€, e ter receita recorrente das assinaturas do serviço Nintendo Switch Online, a empresa agora passa a ser mais agressiva: com preços 50% mais altos tanto para as consolas quanto para os jogos, novos acessórios oficiais (como a cámara para jogos e chats) e algumas mudanças nas cobranças sobre softwares, as quais podem causar certa estranheza.
Os preços mais altos fazem com que a nova consola passe a ser vendida por valores como 470€ (apenas a consola) e 510€ (no pacote incluindo o novo jogo Mario Kart World - que estará disponível por tempo limitado, estratégia já adotada anteriormente pela empresa com o Super Mario 3D All Stars), chegando a ultrapassar os preços praticados até mesmo pela PlayStation 5. Os jogos, por sua vez, passam a ocupar uma faixa entre 70€ e 80€ - para alguns jogos, enquanto outros podem bater a faixa dos 90€ - o que já os distanciam bastante dos preços praticados para a primeira Nintendo Switch. Vale ressaltar também que os jogos digitais e em mídia física passam também a ter diferenciação nos preços, oficialmente, com as mídias físicas passando a custar em torno de 10€ a mais que as versões digitais dos mesmos jogos.
Essas mudanças, em conjunto com as alterações de design, já mostram uma nova estratégia de posicionamento da consola, deixando de ser aquele produto colorido e alegre, passando a ser um produto mais industrial e sóbrio, com tecnologias mais avançadas, como se a quisessem estabelecer agora como um produto premium.
Novas cobranças em softwares
Apesar disso, o mais impactante acaba sendo a mudança das estratégias de cobranças de softwares: recursos que, intuitivamente, seriam gratuitos ou incluídos com a consola (como as melhorias de jogos lançados para a consola anterior ou o novo "jogo introdutório", equivalente ao Astro's Playroom, da PS5), serão cobrados também.
Assim, o novo jogo de demonstração do console, chamado de Nintendo Switch 2 Welcome Tour, vai contra o que já conhecíamos na indústria recente de videojogos e chega como um recurso pago à parte. Não me perguntem por que: eu ainda não entendo a razão de colocar um recurso de software desse tipo como uma experiência paga (e nem quantas pessoas se disporiam a pagar por ela).
Indo além, foram anunciadas "versões melhoradas" (Switch 2 Edition) de diversos jogos já lançados (ou anunciados, como é o caso de Pokémon Legends ZA) para a Nintendo Switch original, as quais também trarão um custo extra para que sejam jogadas de modo otimizado na nova consola. Passam então a ser vendidos como um novo jogo a preço cheio, para quem quiser a mídia física para a Switch 2, ou como um pacote de melhorias para quem já possui o jogo na versão da Switch original (ainda sem preço definido), exigindo um novo investimento para se jogar a versão melhorada de conteúdos já disponíveis na consola anterior.
Em contraste, também foram anunciados diversos jogos que receberão updates gratuitos, para que sejam jogados na Switch 2. Em alguns casos é compreensível a diferença, como por exemplo os jogos Kirby and the Forgotten Land e Mario Party Jamboree, em que a versão para a nova consola também inclui conteúdos adicionais. No entanto, para os demais, ainda fica o questionamento do por quê de estes terem sido contemplados com melhorias pagas e não apenas com um update gratuito.
Motivações Indefinidas
Fato é que a estratégia da empresa está nitidamente a se alterar - buscando lucrar o máximo possível com todos os recursos oferecidos, ainda que estes gerem certa estranheza inicial ao público - e a razão para tal mudança só deve vir a ficar clara com o passar do tempo. Talvez a empresa esteja buscando compensar maiores custos na produção e desenvolvimento tecnológico, ou talvez seja por razões totalmente diferentes. Não há como saber no momento.